Crônica: Cicatrizes




 Precisamos das nossas cicatrizes. Precisamos dos nossos deslizes para nos tornar arquitetos de nós mesmos.

 À medida que vamos vivendo teimamos em querer apagar os nossos erros. Os momentos ruins. As lembranças doloridas. Achamos que seria bem mais simples se estas coisas não tivessem existido. Mas esquecemos de que são elas que impulsionam o aprendizado. Se restar cicatriz é porque dali nasceu uma lição pronta para desabrochar e criar raízes. Se dali ficar recordações penosas é uma oportunidade para fazer diferente. Devemos nos debruçar em tudo o que nos desacomoda a fim de fazermos uma faxina interna. Ou seja, poder juntar tudo aquilo que nos atrapalha a fim de recomeçar.

 Ao invés de pensar em apagar o nosso passado. Deletar as lembranças ruins.  Esquecer os nossos erros. Deveríamos dar um novo significado para o que passou. Encontrar aprendizado para as memórias negativas. Aprender com os nossos erros. Só quem tem cicatriz sabe o que é viver já que guarda ali dentro o trajeto que fez até chegar aonde está.  O percurso para a felicidade é longo e ele é traçado todos os dias e é testado por momentos ruins, mas estes são necessários para que se possa adquirir resiliência. Poder se transformar de forma criativa diante dos momentos de crise.

 Em todo o caminho haverá tempestades, caos e dias cinzentos. Mas eles são essenciais para refletir sobre o que está acontecendo, buscar novos caminhos a fim de traçar destinos. Precisamos levar na bagagem os dias nublados, eles fazem parte da nossa história e nos lembram de como chegamos até ali. Se não fossem as crises, os deslizes, as cicatrizes  não haveria aprendizado. São as nossas partes cinzentas que possibilitam o surgimento das cores bonitas.

 Aprecie suas cicatrizes. Seja grato pelos momentos de confusão. Abrace suas crises. Seja gentil consigo mesmo a fim de poder dar tempo para que o aprendizado possa acontecer. Negar as partes cinzentas é como impedir que o arco íris venha depois da chuva

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