Trocar de Pele



Mudar era necessário. Confesso que muitas vezes a alma  treme de medo do que ainda não sabe sentir direito.

Confesso que mudar dá um medo. Trocar de pele para recomeçar. Não me refiro a mudanças externas, mas sim as de que vem de  dentro. Estas podem ser sutis, arrebatadoras e por vezes assustadoras. Mudar comportamentos leva um tempo, o que pode parecer uma eternidade. Para quem está vivendo as transformações estas podem ser duras e algumas podem ser definitivas. Mudar leva tempo, às vezes uma vida toda. Mas é preciso lapidar as cicatrizes. Por vezes abandonar certas coisas pelo caminho a fim de não carregar uma mala abarrotada de memórias. Talvez chegue a um ponto que seja necessário quebrar algumas partes para poder se reinventar.

Mudar através de uma crise é como nascer de novo. Trocar de pele. Você rompe padrões antigos sem perceber. O que era certo vira do avesso. Você em uma crise não tem consciência da mudança e muito menos dos efeitos a longo prazo. É como ser forçado a ser alguém completamente diferente, você até leva algumas coisas  do que era antes, mas novos comportamentos, hábitos e até mesmo sentimentos parecem estrangeiros. Quando falo de crise é esta que nos vira ao contrário, rompe tudo o que parecia certo e nos oferece uma oportunidade de mudança. Não que seja melhor ou pior do que a mudança espontânea, mas essa é mais dolorida e por vezes mais longa.Mudar por crises ou mudar por querer se trata de sorte ou do acaso que a vida propor.

O bom seria se todos nós pudéssemos mudar porque queremos e não porque somos forçados  a fazer. Seja por uma crise ou seja porque queremos mudar é parte vital de se reinventar. Afinal a vida seria muito chata se a gente ficasse sempre no mesmo lugar, no mesmo ponto de vista e com os mesmos hábitos. Mas, mude por você, se for para agradar os outros de nada vale. A mudança tem que ser sua e de mais ninguém.

Tempo ao Tempo


  

Somos as nossas cicatrizes invisíveis. Somos as lágrimas que não derramamos. Somos os suspiros que silenciamos. Somos as palavras que não dizemos.  Somos os sorrisos invertidos que transformamos para cima.

  Somos as crises que vivenciamos de forma velada. Somos os medos absurdos que nos assombram e fingimos coragem. Somos as perdas que dilaceram e fingimos não importar. Somos os sentimentos que velamos. Somos os segredos que guardamos a sete chaves. Somos os danos que contabilizamos e tentamos transformar em aprendizado.

  Viver não vem com manual de instrução. A quem diga quem diga que crescer é se perder da sua mãe para sempre no supermercado.  Toda decisão que tomamos envolve uma escolha e uma renúncia. Se escolhermos tomar sorvete, estamos renunciando comer bolo. Se eu escolho trabalhar menos, estou renunciando ganhar mais, mas estou ganhando mais tempo para mim. Infelizmente  somos “ensinados” a fugir desesperadamente de tudo que nos faça “perder” e correr como loucos atrás de “ganhos”.

  Entretanto abrir mão temporariamente de algo pode nos dar espaço para ganhos muito maiores no futuro. Desde que saibamos lidar com a ausência  temporária de algumas coisas. Dar tempo não significa perder as coisas. Às vezes se distanciar de alguns problemas, faz que a gente enxergue de outro ângulo. Ganhar novas perspectivas. E até mesmo encontrar novas soluções.