Há uma enorme dificuldade em aceitar que as “doenças da
alma” realmente existam já que muitas vezes não são perceptíveis a olho nu.
Estamos habituados a enxergar o que se pode ser visto e não
o que é sentido. Somos seres materiais, com isso, somos escravos da aparência.
Muitas vezes passamos a ignorar ou nos é passado despercebido o que requer
profundidade e sentimento Há certo preconceito em relação ao que se passa
dentro de nós. Como acreditar em uma doença que não é visível? E desta forma
muitas pessoas reagem de forma negativa frente aos transtornos mentais.
Vislumbrar a pessoa na sua frente sem sintomas físicos como febre, manchas pelo
corpo, alergia ou qualquer outro quadro, o que parece de cara que a pessoa está
normal e para isso não deveria haver alarde.
Nos esbarramos no defeito de não percebermos que dentro de
cada um de nós há um universo inteiro. Cada um de nós é como um carpinteiro do
seu próprio universo, desta forma cada
um semeia, colhe, planta de acordo com o que tem e como pode. As pessoas que
são acometidas por transtornos mentais precisam de ajuda, afeto e suporte para
conseguirem se tornar seus próprios protagonistas de seu universo. Já que
muitas vezes este é colorido em tons acinzentados pela depressão. Outros são
com cores vibrantes e daqui a pouco surgem nuvens negras como a bipolaridade.
Outros os tons são abertos, efusivos e as pinceladas são aceleradas pela
ansiedade.
Provavelmente só quem convive ou já conviveu, ou presenciou
um quadro de depressão, bipolaridade, ansiedade entre outros é capaz de tentar
dimensionar a dor e o sofrimento que isso traz. Todas as pessoas acabam por
serem atingidas de alguma forma, já que as cicatrizes são invisíveis e o pedido
de ajuda pode vir no fundo de um olhar. Acredito que pessoas que já passaram
por transtornos mentais ou convivem com pessoas que os tem, são capazes de
praticar a mais genuína empatia. Ficar ao lado de uma pessoa que está passando
uma crise. Dar afeto e consolo para a pessoa que está passando por um momento
de confusão. Poder estar simplesmente ao
lado sem falar nada, mas demonstrando carinho é uma forma de conseguir encostar
no mundo do outro, permear por este universo que muitas vezes se encontra
bagunçado e oferecer apoio. Muitas vezes a pessoa que está passando por um
momento complicado não precisa de muito, apenas um beijo, um abraço, uma
palavra de solidariedade faz toda a diferença.
Vivemos em uma sociedade que supervaloriza o externo. Damos
muita atenção à aparência, fama e acabamos por esquecer ou deixar de lado a
saúde mental. O ideal seria que o nosso físico, a nossa aparência estivesse em
ordem, mas juntamente ou andando em conjunto com a nossa saúde mental.
Deveríamos investir tanto na saúde mental quanto investimos em bens materiais.
A psicoterapia deveria ser uma ferramenta essencial para todas as pessoas
buscarem autoconhecimento. Mas enquanto
os sentimentos não forem valorizados pela sociedade, as doenças vindas da alma
vão ser encaradas dificilmente como deveriam ser. Deveríamos investir na nossa
saúde mental e a do próximo assim como investimos em carros, roupas e imóveis.
Cuidar da mente e até mesmo espiritual deveria estar na nossa lista de
prioridades.
Os abismos, os labirintos da alma que passam invisíveis aos
olhos abarrotados de sofrimento deveriam ser compreendidos com urgência. Não
apenas tratados com medicação, mas com psicoterapia, espiritualidade e rede de
apoio. Este quadrado de opções é o que
pode levar a pessoa a experienciar a vida de forma mais leve, saudável e menos
dolorida.
Depressão não é falta de vontade. Bipolaridade não é drama. Ansiedade
não é frescura. Nenhuma doença mental deve ser abordada como bobagem, falta do
que fazer ou puro desleixo. Ninguém escolhe ser acometido por um transtorno
mental não é uma opção. A pessoa não escolhe ser assim é uma questão
multifatorial, mas pode ser tratada por uma rede de apoio favorável. Esta inclui
família, amigos, tratamento psiquiátrico, psicológico e diria ainda mais a espiritualidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário