Nosso amor de tantas rugas, enrugou

Nosso amor de tantas rugas, enrugou




  Vai dar saudade. Vou carregar a gente por todos os cantos. Vou ficar por um tempo presa no que construímos até ser capaz de destruir o nosso castelo de areia, por tanto  tempo achei  que era concreto.

  Saudade do convite para um café na espera por algo mais. Quem sabe nós dois dividindo a cama pequena no meio de uma semana qualquer.  Vou ficar a desmanchar os nós que não formaram laços. Vou ficar por um tempo dançando descalça sob os estilhaços de vidro das tuas palavras.  Vou tentar virar a página, apagar as reticências que por aqui pairam.

  Fiquei tanto tempo procurando algo concreto, mas não adianta só há areia e vento. Mergulhei novamente em nós, tentei desengavetar  sonhos, algum resto de esperança ou uma expectativa mesmo que vã. Encontrei mentiras sinceras.  No máximo tentativas de concordância em vão. caminhos opostos que teimavam em caminhar juntos. Uma vontade  de dar certo quando havia apenas ressentimentos. Por tanto tempo  me apeguei em um restinho de esperança.  Me sentia . Ao abarcar na nossa zona de conforto me sentia em casa.

    O que sei é que não deu errado.  Não demos errado. Por muito tempo fiquei com essa mania de achar que se um relacionamento acabou é porque não deu certo. Pelo contrário, os nossos momentos são como pequenos infinitos que ficarão para sempre nas paredes da minha eternidade.  As viagens, os gostos musicais, as brincadeiras internas, as conquistas e tudo o que fizemos, permanecerá como um legado para posteridade.  A gente daria errado se tentasse ficar consertando o que não dá para consertar. Se você continuasse a sumir nas horas mais inadequadas. Se me deixasse levar pelas suas desculpas esfarrapadas. Se deixasse você brincar com meu coração como jogo de tabuleiro. Se me permitisse levar adiante o que já teve um final, a gente daria errado. Por mais choro, ofensas trocadas, silêncios que gritaram ali havia um desfecho.Proferimos: se cuida, seja feliz, fique bem. Tentamos manter o mínimo de compostura frente ao momento de crise.

  O fim era inevitável, a dor será opcional. Por mais que saiba que saudade não se cura com cafeína e que nem um novo amor tomará o seu lugar tão rápido . Por saber que sentimentos não se curam do dia para noite, se transformam. Não foi por falta de amor que rompemos, foi por amor demais. Um amor que sufoca, aprisiona, oscila e fere. Este mesmo amor titânico e também tirânico, capaz de abraçar o mundo  nos  fez enxergar o quanto estávamos nos tornando tóxicos e nocivos.  Dói né? Vai dar saudade né? Vamos sentir falta da gente né? 

  Teremos que ter maturidade suficiente para guardar apenas o que restou de bom. Selecionar o que agregamos de novo, de colorido um ao outro. Você disse que agradece o crescimento profissional e o quanto te estimulei a pensar fora da sua zona de conforto.  Agradeço pela calmaria, por me fazer entender o poder organizador da rotina e o quanto ainda tenho que evoluir.  Vai dar saudade de acordar de conchinha, de conversar até pegar no sono, das mensagens de bom dia, das ligações fora de hora.  Vai dar saudade do beijo na testa, na espera para contemplar seu sorriso e do beijo que encaixava como de forma perfeita. Vou sentir falta do seu pé procurando o meu embaixo das cobertas. Do cheiro do seu shampoo no meu travesseiro. Da forma como vibrava com as minhas pequenas conquistas.  Vou sentir falta da nossa amizade, do cuidado incondicional e da forma como escutava com atenção as minhas bobagens. Vou deixar o tempo correr, torcendo que a distância não rompa as marcas  recheadas de pequenos infinitos que deixamos na  humanidade.

   Nosso amor de tantas rugas enrugou.  Nosso amor virou a esquina.  Mudou de estação.  Virou a página.  Já não somos  os mesmos. Os impactos e as marcas deixados são inegáveis e imutáveis. Somos a prova viva de que amores requentados também precisam de desfecho.  Vou embora antes que a cólera tome conta.  Vou embora  antes que o caos se instaure. Vou embora deixando o domingo nos cobrir de preguiça para voltar atrás.


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