A Senhora da Van
Às vezes uma história
escolhe um escritor e as vezes o escritor escolhe uma história. Normalmente
para quem escreve acaba por adquirir um sentido mais aguçado para procurar no
meio de cenas cotidianas e até mesmo em nossos cenários familiares, inspiração.
É assim que a trama do filme a Senhora da Van ganha voz pelo dramaturgo
britânico Allan Bennet ( interpretado por Alex Jennings) e a sua inspiração uma
senhora para lá de excêntrica interpretada
para a forte e brilhante atuação de Maggie Smith. Ela deixa de lado o glamour
que trazia em “ Dotwton Abbey” (2010) para embarcar em uma história baseada
quase toda em fatos reais.
Para quem escreve assim como o nosso protagonista Allan, por
vezes o processo de criação faz que
tenhamos diversas conversas consigo mesmo, por vezes nos imaginamos em dois a
fim de que possamos explicitar nossas ideias e até mesmo chegar as fontes de inspiração.
A trama gira em torno de um bairro nobre em Londres, com casas muito vistosas e
moradores chiques e repletos de costumes elegantes. No meio de tudo isso, surge
uma figura no mínimo impactante que se destaca,
a Srta Shephered ( Maggie Smith), ela é uma andarilha, vive escolhendo
onde irá estacionar a sua van segundo ela por escolhas que beiram o divino.
Dentro de seu carro há de tudo um pouco, cebolas, sacolas, orações e todo tipo de
quinquilharia, ela migra para a frente
de diversas casas e assim passa um tempo por lá. Alguns vizinhos se incomodam,
outros tentam fazer o máximo de barulho para espantá-la e outros se solidarizam
e oferecem comida. O seu passado, a sua história
e os porquês dela ter se tornado uma nômade permanecem um mistério.
Por algum motivo ou por uma grande coleção de coincidências
o dramaturgo acaba se compadecendo daquela senhora, fica curioso com suas excentricidades
e resolve ceder espaço em sua garagem para que a senhora e sua van possam ficar
três meses, acabam sendo mais ou menos quinze anos. Aos poucos o escritor vai
se encantando por aquela senhora, vai sabendo alguns detalhes de sua história.
Expulsa do convento por duas vezes, uma eximia pianista, uma motorista de
ambulância na segunda guerra mundial, um irmão distante e uma internação em uma
casa para malucos. Mas o que realmente importa é se deliciar com a intepretação
brilhante de Maggie Smith que parece ter encarnado aquela senhor temperamental,
vitimas de suas escolhas, que tem odores característicos, se nega a viver em
outro lugar que não seja a sua van, se alimenta de cebolas cruas e não tem
papas na língua. A sutileza e a delicadeza
que a relação entre o dramaturgo e ela se faz não
apenas pelo gesto de compaixão de ter cedido abrigo, mas uma linha muito tênue
de afetos se constroem entre eles sem precisar de grandes demonstrações explícitas
ou bens materiais. Os afetos são espontâneos
e genuínos de cada um parece tecido por
uma aceitação incondicional da existência um do outro.
Apesar de ser um filme carregado de diálogos, o que devemos
prestar atenção e nos deter não são nas ações já que não é um filme onde
ficamos esperando ansiosos pela próxima cena ou torcendo pelo desfecho, mas
devemos ficar atentos ao humor. O humor típico britânico, mas que é fácil de
ser entendido e leva o espectador a dar gargalhadas das situações que são na
realidade bem tristes, mas isso é
latente dos seres humanos usar o humor para aliviar as dores do cotidiano. Vale a pena assistir pelas brilhantes
atuações, pelo final surpreendente e fica a dica para quem é escritor ficar
mais atento nas histórias ao redor, vai saber quando iremos conhecer uma
Senhora da Van e dela nos deliciarmos e até mesmo nos inspirarmos.
Meus Filmes Prediletos de Maggie Smith
- O Quarteto
- O Exótico Hotel Marigold 1 e 2
- Minha Querida Dama
- A Senhora da Van
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