De Onde Eu Te Vejo
Sou uma apaixonado do cinema nacional e acredito que nós
brasileiros deveríamos valorizar as riquezas cinematográficas produzidas por
nós. Desta vez me surpreendi em cada segundo pela minha escolha do filme De
Onde Eu Te Vejo, desde quinta-feira em exibição nos cinemas brasileiros. As
atuações sensíveis, poéticas e até mesmo emocionantes de Denise Fraga e
Domingos Montagner nos faz repensar o sentido do amor e de como reinventá-lo em
meio ao caos urbano do nosso cotidiano.
Se você está desacreditando no amor, está vivendo uma crise
em seu relacionamento ou seja em qual fase o amor está se pondo para você, vá
ao cinema mais próxima e se deixe invadir por essa trama tocante. O roteio de Leonardo Moreira e Rafael Gomes
conduz a história por dentro de uma São Paulo que se faz protagonista, ela não
é apenas plano de fundo para a história, ela também é atuante e se faz presente
em cada aspecto. A fotografia é
impecável, as cenas que são ambientadas em lugares históricos nos fazem se
misturar ao cotidiano dos paulistanos, nos sentimos ali dentro da história.
Separar é uma tarefa para lá de complicado, imagina
depois de trinta anos de encontros e desencontros, intimidades trocadas e uma
separação iminente toma conta do então casal ou ex casal Ana Lúcia e Fábio. O
inusitado é que apesar de separados, estão conectados por uma janela, os seus
apartamentos além de vizinhos, também dão de vista um para outro. Assim se
tornam espectadores da vida alheia, mas uma vida que outrora já fora
compartilhada. Um roteiro franco, sem exageros que retrata a rotina de forma
empática, profunda e sensível. Com diálogos que beiram poesia, me fizeram chorar como uma criança como se cada palavra
dita e posta ali estivesse sendo escrito para mim. Poucos filmes me tocaram de
uma forma tão profunda, intensa e ao mesmo tempo tão real.
Os dramas passados pelo casal exposto em cena são totalmente
verdadeiras, honestas e poderiam ser experienciadas por qualquer um de nós Uma
relação desgastada, o crescimento da
filha, a saudade deixada pelo outro, estar
separado e continuar se vendo, tudo isso é passado para o espectador de uma
forma tão delicada, tão bem construída e sem exageros que fica fácil se
identificar e se deixar levar por cada segundo do filme. O longa é uma crônica que retrata a magnitude
que se esconde nas pequenas coisas e acontecimentos do cotidiano. O quanto
somos formados por uma coleção de acasos, manias, ridículos, afetos e
principalmente estórias. O que nos
define como seres humanos é uma coleção infinita de mapas sejam eles concretos,
imaginários que nos levam a ser quem somos e o que nos define é uma eterna
mudança. Ou seja, o casal do filme foi mudando ao longo do tempo, o que me fez
refletir o quanto vamos mudando e o quanto vamos nos tornando diferentes e até
mesmo estranhos perante aos olhos do outro que nos acompanha e perante nós
mesmos. Mas mesmo que as mudanças venham o outro que está ali ao nosso lado permanecer
e ainda tiver a capacidade de nos amar mesmo com tantas mudanças, o amor se põe
novamente.
O filme retrata com a insanidade do nosso cotidiano vai nos
mudando sem que nós possamos perceber de fato isso. Crises, mudanças de emprego,
demolição dos lugares que frequentamos,
apego aos rituais, hábitos
estranhos e tantas outras coisas. O que nos define ao longo da existência vai
se modificando e perceber que tudo é inconstante e talvez por isso seja mágico
é um dom. De Onde Eu Te Vejo vale o ingresso e vale uma jornada através de cada
um de nós a fim de que possamos refletir a respeito de nossos “ mapas”. Os
nossos lugares, os nossos esconderijos, os nossos segredos mais obscenos,
nossos rituais mais bizarros, nossas manias mais estranhas e talvez poder encontrar alguém para dividir as
mudanças do caminho, as malas repletas
de nostalgias a fim de poder compartilhar uma existência
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