Crônica: Odiar é primitivo mas amar é o sentido.




Para vivermos um amor real é preciso viver alguns quase amores. Passamos pela fase dos amores platônicos que muitas vezes parecem ser deliciosamente real já que pelo poder da fantasia transformamos qualquer tipo de situação em traços reais,. A gente apaixona e desapaixona, se declara sem engasgar, imagina os mínimos detalhes e por sorte não temos que ultrapassar a barreira da realidade. Estamos protegidos pelas nossas fantasias e com isso colecionamos uma infinidade de amores, encontros e desencontros.

Há a fase dos amores propriamente ditos, muitas vezes são apenas aquelas primeiras experiências onde somos tomados pelo desejo de concretizar as nossas fantasias. Passamos por cima de nossos anseios e rompemos a nossa bolha cor de rosa. Onde lá nos nossos sonhos já degustamos o nosso primeiro beijo, andamos de mãos dadas, sentimos o coração acelerar ao desligar as luzes do cinema, esperamos ansiosamente por palavra de amor e torcemos que o sentimento seja recíproco, mas se também não for, é a nossa fantasia que está comandando e em breve a pessoa sentirá o mesmo. Ao cruzar para o real, acabamos tropeçando muitas vezes em nossos deslizes e muitas vezes seremos frustrados, na hora vai doer, na hora nos sentiremos bobos e com certeza parecerá o final do mundo. Sim, desde muito pequena sou movida por amores platônicos, talvez pontinhas que me indicava que a minha direção era escrever e para isso tinha tanto combustível para dar asas a imaginação. Na pré- escola era encantada por um menino que me andava de gira gira comigo no recreio, quanto mais rápido a gente girava mais me sentia com borboletas no estômago, ele me ensinou a estralar os dedos e acredito que este ficou algo no meu real, afinal toda vez que cometo os atos de estrelas os dedos me lembro apenas do menino de cabelos muito negros, jaqueta laranja neon com azul marinho. Durante a adolescência, dediquei poesias e livros inteiros para um menino do qual nunca tinha trocado nem meia dúzia de palavras. Apenas me deixei levar pelos gostos dele, com isso no ato de tentar agradar e entender o seu mundo interno, ele acabou adicionando ao meu gosto musical, fragmentos que levo até hoje, Raul Seixas. As poesias, os versos e os sentimentos ao invés de serem direcionados a ele viraram algo concreto, hoje vejo que sublimei o seu não, já que anos depois enviei tudo para ele, dizendo que muitos eram inspirados na pessoa dele, sem a resposta afirmativa que esperava, me contentei e tratei de esquecer. Nesta mesma fase de minha vida, escrevi muitas cartas anônimas,declarando meus sentimentos, com certeza o carteiro que vinha ser o senhor que me levava de Combi, deve ter guardado as minhas cartinhas, talvez elas não encontraram o destinatário e tudo bem. Mais tarde, na oitava série comecei a nutrir uma paixonite por um colega de classe, ele tinha repetido de ano e me sentia o máximo em fazer os trabalhos para ele, deixar ele colar da minha prova, sim era muito boba. Chegou o tão esperado dia, tinha aula de teatro, a gente ia dar um beijo na peça, achei que aquela ia ser a hora perfeita. Mas aí pode ser foi a primeira vez de fato que comecei a entender que o amor é diferente para tipo de pessoa, ele não gostava tanto de meninas, colocou a mão sobre ops meus lábios e beijou,. Sinto uma saudade destes dias, onde as coisas ainda não eram projetadas no papel, não passei de fato a sofrer por amor e sim por quase amores, nem sabia o me esperava.

Como boa menina careta que me considero e com orgulho. Meu primeiro beijo foi apenas ao dezesseis, nem de perto como imaginei. O menino estudava na outra turma, na frente da minha sala e parecia mesmo ter saído de algum clipe de rock pesado que tanto gostava. Ele tinha os cabelos loiros compridos, um jeito bagunçado e os olhos que oscilavam entre azul e verde, mais tarde descobri que as nunces apareciam cada vez que ele mentia. O menino me esperou numa quarta-feira, me pediu em namoro, perguntei para ele se ele sabia o que era namorar, ele balançou os ombros, dizendo que não, mas disse que tudo bem íamos descobrir juntos. Aí achei depois do pedido que viria o beijo, mas ele veio em prestação apenas no sábado no final de um filme de ação, eu desde a hora que as luzes do cinema se apagaram, fiquei ali esperando pelo grande momento. Esperando ele chegar mais perto, pegar a minha mão ou qualquer demonstração de afeto, mas foi assim rápido, curto e nem de perto o que achei que era. Não houve essa de língua, amassado e nem nada. O legal que pelo menos nos poucos meses que ficamos juntos, a gente aprendeu, pelo menos da minha parte aprendemos a beijar. Com ele entendi talvez não da maneira mais legal, que o mundo frustra, as pessoas frustram e romper barreira do real implica em se deparar com algumas coisas que na época que estamos vivendo se tornam grandes demais para serem enfrentadas. O menino era apaixonado por uma outra menina e tudo bem já sabemos com isso acaba, mas pelo menos saí da fase dos amores platônicos e sim na época foi o final do mundo. Chorei litros, achei que aquela cicatriz ia ficar ali para sempre, de certa forma todas as pessoas que passam em nossa vida, deixam alguma coisa, no começo pode ser mágoa, depois passa e ganhei novos contornos. Depois veio um amor real, de verdade e quase de cinema por assim dizer, me aniversário em Janeiro na praia, me trouxe um garoto, filho de amigos dos pais. Um menino com olhos verdes, estes não ganhavam novas nuances. Caminhamos pela praia quase quatro horas, sim nossos pés ficaram dormentes de tanto caminhar, mas os assuntos e as coisas em comum que a gente conversava parecia que a gente já se conhecia, dali senti que nascia uma amizade, mas nem pensava que iria esperar ele voltar de ma viagem e iria passar o verão falando com ele pelo computador. Na volta, ele me deu um anel, que não sei se foi uma forma de dizer que estávamos juntos mesmo que nenhum dos dois saberia ao certo o que aquilo queria dizer. Não posso dizer que era amor de verdade, mas dois anos se passaram, teve viagens, conhecemos o México, teve cinema, passeios, brigas, mas não teve aquele amor que desperta os instintos do desejo, estranho pensar que se passa tanto tempo ao lado de alguém, sem que algumas coisas de fato despertem dentro da gente. Ok, temos uma ressalva pelo medo me perder e não talvez não pelo fato de perder, acabo sempre terminando antes que seja tarde. Deixei esta história ir, pode se dizer que aprendi bastante e hoje guardo apenas as partes coloridas, aquelas lembranças que fazem a gente sorrir, sem estar associado a vontade de voltar.

Aí vem a fase do amor passional. Aquela história que não foi apenas vivida, foi vomitada, gritada e parece escrita em sangue na sua pele. O tipo de casal oposto, uma antítese formada de tantas contradições que parece ter prazo de validade para expirar. Assim como muita gente, viver um amor impulsivo, movido basicamente pelo princípio do prazer, sem medir as consequências, a medida das palavras e as agressões, só podem deixar além de mágoa, aquele sentimento de culpa estranho que não passa ao longo do tempo. Com este tipo de amor a gente entende que a medida do amor é as vezes amplificar na potência máximas coisas que não deveriam ser ditas e nem feitas por ninguém. Não me refiro ao meu caso em infidelidade e sim uma traição consigo mesmo, a gente acaba ao longo da história se troando exatamente o oposto do que éramos. As nossas partes feitas se sobressaem as bonitas e acabam por ocultar as partes bonitas da história. O tipo de amor que não pode dar certo, ele é passional demais, grande demais e a cada briga, rompimento nasce uma nova cicatriz. Somos feitos de amores passionais, toda história de amor, pode ser tornar uma grande tragédia se não houver primeiro o amor próprio, escuta incondicional e o respeito pelo outro e principalmente por si mesmo, Pare que tudo não virasse uma enorme tragédia, demorei um ano, o tempo do luto, o tempo que a gente leva para sublimar as coisas que não deram certo. Levei um tempo para dar um tempo ao tempo, fazer as pessoas comigo e com o meu passado, para isso não se tornasse uma tragédia grega de vez, conseguimos depois de um tempo, sentar olhando olhos nos olhos, sem a intenção de retornar e nm quebrar os pratos novamente Apenas um pedido de desculpas, uma conversa para emagrecer a alma, afinar as mágoas e dar sentido ao que tinha ficado pelo caminho. Tido bem depois disso, precisei viver uma fase de chutar o balde, me permitir e não me arrependo porque todo mundo tem experimentar um pouco de tudo, mas desta vez estava mais blindada, mas alguns pés nas bunda doeram bastante. Algumas atitudes idiotas de me declarar para alguém que não estava pronto para aceitar, viraram um pouco de mágoa depois se transformaram em poesia. O jeito talvez pelo que dei vasão aos meus sentimentos foi dando sentido em forma de verso,l ali nasceram as coisas mais bonitas. Afinal se não fosse do amor passional, talvez o blog não tivesse surgido e se a conversa de botas partidas não tivesse sido conversada, talvez o blog não se transformasse em livro. Dei a sorte de viver amores turbulentos, alguns com sabores de frutas mordidas,mas de todos houve aprendizados, cicatrizes e com certeza fizeram que chegasse exatamente onde estou. Sou formada de um transbordamento de amores, desamores, histórias que só podem viram poesia e hoje dou muita risada de muitas coisas. Por isso digo para você que está vivendo qualquer uma dessas fases, parece ser o final do mundo, curta e aproveite a sua fossa, se precisar ligar, se precisar ainda correr atrás dê vasão aos sentimentos mais malucos, mas se puder transformar isso de forma mais saudável, dê um sentido para isso transformando as mágoas em arte. Não pense que no começo leve tudo para o papel, dei muita bola fora, fiz muita bobagem para aprender que era essa a maneira de subliminar, esquecer e deixar o tempo me trazer algumas respostas, ainda hoje não tive todas, o tempo ajuda, mas não cicatriza tudo, estes espaços que ficam dão o colorido e o mistério da vida.

E em que fase estou vivendo hoje? Acho dei sorte nestes encontros e desencontros, me apaixonei e reencontrei um amor de verão. Um amor capaz de desarmar os meus mecanismos de defesas, aprender a amar de uma forma menos passional, nem por isso menos intensa mas na medida certa. Intensa de sentimentos saudáveis, aprender que amar alguém é se deixar amar. Me deixei ser amada com meus defeitos, com as minhas bagagens e deixando que outro me visse exatamente como sou. Parei de tentar ser alguém diferente do que sou, alguém totalmente perfeito e totalmente orientado, Afinal a direção do nosso barco é formada pelas decisões que tomamos todos os dias, nem todos os dias são coloridos e nem as tomadas de decisões são fáceis, mas o que nos salve é o amor, é o encontro de pés embaixo do lenço. Tem prazer , tem tesão, tem apaixonamento, mas acima de tudo tem empatia, tem compaixão, tem o tom certo para que queira continuar e não fugir, tem a medida exata que quero meu futuro seja embalado, Espero em breve escrever esta história no eterno, dizendo sim para a vida toda. Hoje vejo meu futuro se desenrolar na minha frente, já que todos os dias a gente alimenta o amore da gente com conversas, com respeito, com cuidado, com carinho e com muita paciência. As vezes dou uma espiada em como era antigamente, nem me reconheço, virei uma romântica, acalmei a minha alma e aprendi que amar e ser amado é o sentido da vida e a estrada que leva a uma porção de destino infinitos.

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