Fechar ou não fechar o coração para balanço?
Tinha fechado o meu
coração para balanço. Estava desistindo do amor. Ia me contentar em ser bem sucedida, feliz ao lado dos meus amigos e principalmente
cultivar o meu amor próprio. Dar um tempo nos meninos, investidas, aplicativos e nos encontros ruins.
Nada fazia passar do segundo
encontro. O papo não fluía. Os gostos não se alinhavam. Sempre sobrava ou
faltava algo. Me sentia vazia,
incompleta ou totalmente entediada. Achava defeitos, perdia o interesse
ou muitas vezes não passava de um simples olá. Não conseguia me sentir atraída,
disposta ou com alguma vontade. Até que tudo mudou há um tempo. Um menino desconhecido me pede o meu número
por um aplicativo. Modernidades
contemporâneas. A gente encontra pessoas pelas redes socais meio que pelo acaso
como antigamente quando se saía para encontros às escuras.
Começamos a conversar
meio sem pretensão alguma. No começo não tinha rolado muito papo. Meio por
acaso uma vontade imensa de conhecer outro apareceu. Uma intimidade foi
surgindo e uma expectativa para conhecer ao vivo. Como é possível se apaixonar
por uma foto? Por um tom de voz? Por palavras bonitas e digitadas? Tudo parecia
tão perfeito ali no mundo virtual que bateu até uma insegurança se tudo aquilo
iria corresponder com a realidade. Como saber que já era amor mesmo antes de
dizer oi? Me apaixonei pela maneira que
ele manda mensagens. A forma eu me sentir em casa. O cuidado mesmo
distante. Será que isso já era amor?
Até que numa
sexta-feira o mundo parou. Aquele tipo de momento em que o tempo congela. A realidade
se torna apenas figurante. A humanidade
passou a ser coadjuvante. O seu sorriso
virou a curva da qual queria me perder. Os
seus olhos castanhos com tons de verde sorrindo ao encontro dos meus. Só podia ser amor. Tinha borboletas no meu
estômago. Uma sensação de que uma cidade estava se acendendo de mim. Talvez o amor já estava sendo servido de forma
virtual e confirmado no mundo real. Eu que
não acreditava em amor a primeira vista. Tinha pavor de romantismo. Dava no pé
ao primeiro toque de sentimentalismo. Me deparei ali boba, entregue e
totalmente a mercê daquele que antes era apenas um desconhecido. Será que a
pessoa certa tem o dom de nos fazer ser exatamente aquilo que temíamos? Sem que
isso nos faça sentir culpa alguma? Talvez.
Os medos. As inseguranças. O tédio de conhecer alguém. A procura por
defeitos. Tudo isso se tornou vago, pequeno e distante. Quando eu coloquei meus olhos naquele menino
sabia que era amor. O primeiro beijo no cinema e todos os outros que vieram. A vontade
genuína de querer ficar junto. O gosto pelas coisas simples. Foi um passo para
que as declarações surgissem. Um te amo saísse despretensiosamente das nossas
bocas. O andar de mãos dadas pela
cidade. Os segredos sussurrados ao pé do
ouvindo. O fazer amor que faz sentido. Tudo isso só aconteceu porque me
libertei das expectativas. Eu que estava
fechando meu coração para balanço. Pedindo as contas para o amor. Fui surpreendida por alguém que quebrou
todas minhas as certezas. Por não idealizar deixei de fazer tipo, bancar um personagem,
tentar agradar e muito menos forçar para dar certo. Fui vestida de mim mesma desde o primeiro encontro até agora. Foi isso
que o conquistou. Ter ao seu lado alguém que não tem medo de desafinar.
Somos livres quando
entendemos que para amar basta o
sorriso, a risada, o jeito desastrado, o
beijo apressado, as mãos inquietas, o coração acelerado, o cabelo bagunçado e
uma infinidade de sensações que nos
assaltam a medida que o outro chega e vem para ficar. O cara que antes era
apenas um desconhecido que troquei algumas mensagens, se tornou o CARA. Como
sei? Para as coisas do coração é preciso desaprender, a saber, e começar a
sentir.
Se você assim como eu está tão machucado a ponto de fechar o
coração para balanço. Quando menos você esperar a vida surpreende. Te vira do
avesso. Te traz as melhores coisas da vida. Alguém totalmente novo. Um carpinteiro
para ajudar a construir o seu universo .
Alguém
capaz de construir pontes ao invés de muros. Alguém que não só pega, mas se
apega. Alguém corajoso o suficiente para ficar do teu lado. Alguém que te some
e não suma. Alguém que te compreenda e não te julgue. Alguém que te faça rir
mares. Alguém que faça sorrir litros. Alguém que encaixe e não force. Alguém que
seja perfeito como feijão com arroz e mumu com requeijão.
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