Crônica : Para Sempre Alice ( Pequenos Infinitos)







Assisti ao filme "Para Sempre Alice", mas não quero fazer uma resenha sobre ele. O que achei, o que deixei de achar, pouco importa. Resolvi pensar uma porção de coisas, fiquei aqui colecionando uma porção de coisas sobre o processo de esquecer, de ser esquecido e os grandes e pequenos infinitos que vamos deixando na nossa existência.

A gente cresce, a maioria de nós com a ideia de que vamos ser lembrados para além da eternidade. Vamos ser recordados pelos nossos atos, pelos nosso feitos ou pelas coisas que iremos deixar. Eu sempre quis tocar os que realmente amo de forma incondicional, quero tocar a alma das pessoas para que o amor que senti por elas ao longo dos meus dias, possa ser o combustível que mantenha a minha lembrança acesa nelas. O meu legado será deixado apenas pelo papel, pelas minhas ideias e pela poesia deixada por aí, mas quero apenas que as pessoas que amei de verdade saibam verdadeiramente que as amei. Afinal pode chegar uma hora que esqueça mesmo de mim, me veja passar por aí sem que possa me reconhecer. Um estranho de grandes olhos castanhos a me devorar no espelho, posso esquecer o que me trouxe até aqui e os porquês que escolhi algumas brigas e deixei algumas para trás. Envelhecer requer se esquecer de forma sóbria de algumas coisas e outras a gente irá esquecer de forma forçada.

Afinal neste mundo modernos onde prezamos por pensar no futuro o tempo todo presos em nossas pequenas telas virtuais. Acabamos por esquecer os nossos pequenos grandes e pequenos infinitos. São as coisas bobas e as que parecem ser meros detalhes em nosso cotidiano que irão fazer a toda a diferença quando a gente esquecer qual mesmo o nosso nome. Pode ser que a gente tenha muito pouco tempo até a gente se dar conta que pode ser o último ano que sejamos plenamente nós mesmos. Acredito mesmo que está doença que faz a gente apagar o nosso cérebro por alguns momentos, faz tudo que era íntimo se torne quase um desconhecido, seja o grande mal do século. Afinal, estamos tão acostumados a reter uma gama de informações a todo instante, que acabamos por esquecer de reciclar o nosso lixo mental. Sei que doenças como estas existem há muito tempo, mas parece que isso foi se agravando de tal forma que fica complicado conhecer pessoas que não convivam com ela ou não tenham presenciado alguém próximo passar por isso.

Como a personagem do filme mesmo diz a gente esquece de colecionar as nossas lembranças do dia a dia, as coisas que nos dão forma, nos sintonizam com que nos é próximo e vamos deixado passar batido os dias. Afinal um dia, vamos sentir falta de saber o nosso sorvete favorito, como andar por aí e saber voltar para casa, poder ler os nossos livros favoritos e dizer exatamente o que estamos pensando. Quando envelhecermos vamos sentir falta não do que deixamos de fazer, nem do que deixamos para trás, mas sim a falta de pertencermos a nós mesmos. De não nos sentirmos estrangeiros em nossos próprios corpos, podermos sermos nós mesmos no escuro sem que ao ligar a luz não nos assustemos com aquela pessoa através do espelho. Vamos envelhecer é certo, mas a velocidade é a gente quem faz. Se vamos continuar vivendo acelerando pelas curvas ou vamos desacelerar a fim de admirarmos algumas paisagens dependerá muito mais da gente do- que o destino.

O acaso com certeza brinca com as pessoas. Tem gente que tem sorte de cara, tem gente que pena em encontrar a sorte, mas se puder escolher quero tudo saía "ao som de Tim Maia" a fim de desacelerar, nem que isso implique em ficar para trás a fim de deixar algumas infinitos mais longos e coloridos.

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