FELIZ ANIVERSÁRIO

FELIZ ANIVERSÁRIO: 1 ANO DO LIVRO CONVERSAS QUE EMAGRECEM




Hoje faz um ano que lancei o meu primeiro livro Conversas que Emagrecem pela Editora Penalux. Guardei o dia 27 de junho na minha mala de memórias favoritas ao lado dos momentos memoráveis.
Escrever é algo que me acompanha desde muito cedo, uma daquelas coisas que a gente carrega há tanto tempo que já nem sabe como você era antes. Desde que me lembro, os livros sempre estiveram ao meu lado, quando ainda não lia, meus pais liam para mim todas as noites. O hábito da leitura despertado desde o berço só intensificou o meu desejo de dar continuidade quando comecei a escolher meus próprios livros, devorar os meus autores prediletos e sempre estar em busca de novidades. Mas foi aos onze anos que comecei a escrever algo autoral, algo que imprimisse a minha identidade, que colorisse o meu mundo e desse voz ao meu mundo interno.

Sempre tive uma vida interior fantasiosa,  repleta de muita criatividade , tanto que todo tempo minha mente está analisando o cotidiano  e as experiências para que possa desenvolver material para criar. A realidade me inspira as pessoas ao meu redor, os acontecimentos, tiro maior proveito de absolutamente tudo, vejo o mundo como um imenso mar de aleatórios que  sempre dá para transformar em prosa ou poesia ou aprendizado.  Comecei a me aventurar na escrita no começo da  adolescência  como uma forma de me libertar, de me sentir completa, de poder dar vazão aos meus sentimentos.  Escrever em um primeiro momento veio como munição para enfrentar os dissabores do cotidiano, em outros momentos veio dar sentido para minha vida.


Com o passar dos anos, escrever foi se tornando algo para além de preencher um tempo livre, veio para somar, fazer parte e exercer um papel fundamental na minha existência. De pequenas publicações, do surgimento do Blog Carpinteiros do Universo, no espaço na revista online Obvious e tantos outros projetos que fui abraçando, vou conhecendo novas pessoas, descobrindo novas histórias e buscando inspiração nos lugares mais inusitados. Tudo na escrita depende do ponto de vista, da cor que pintamos e deixamos também pintar o mundo ao nosso redor, saber aproveitar os momentos de crise e usar os sentimentos. Afinal sem usar a voz do coração pode se imprimir um texto de forma correta em termos de gramática e vocabulário, mas será pobre em sentimentos. De nada adianta o mais rebuscado das palavras se não usar a alma como combustível. Para escrever há de se tocar a alma do outro pela veracidade do que se é posto no papel.


 Hoje com vinte e poucos, primeiro livro publicado, um a caminho e tantos outros projetos surgindo, tenho ainda dentro de mim aquela garotinha curiosa  que mesmo ainda sem poder ler já queria devorar livros. Ainda há em mim a adolescente que queria mudar o mundo através do que escreve. Hoje adulta, sei que o caminho é preservar cada fase que já fui, cada momento que vivi  com os olhos fitos no futuro, sem perder a beleza do hoje e sem nunca desistir de ainda querer fazer sentido na vida dos outros. Afinal quando tenho o prazer de escutar dos meus leitores, que os emocionei, já fico grata e me dou por satisfeita.

Sem a pretensão de ser famosa e nem viver dos holofotes, quero viver para contar o que vivo, poder expressar a minha percepção do mundo, às vezes bagunçada, mas sempre repleta de muito amor.  Como dica digo que para ser escritor ou a profissão que você desejar,  faça a diferença sendo você mesmo. Nada mais nobre do que poder exercer a liberdade de ser você mesmo, em um mundo aparências, quem é original se destaca.



Crônica : Mande o humano que habita em você exercer sua humanidade


Aproprio-me das frases de uma das minhas bandas prediletas desde 1999, Bidê ou Balde. Do seu CD intitulado  Outubro ou Nada de 2002 há uma música chamada Dulci. Nela nos diz que sem proteínas e um uns bons hematomas nenhum ser humano consegue viver.

Qual o nome da saudade? Qual o nome do seu destino? Quais são as cores do seu cotidiano?  Sem alguns corações partidos, sem alguns joelhos ralados, sem algumas noites mal dormidas. Sem algumas pessoas, sem alguns desamores, sem algumas canções, sem alguns livros, ouso dizer que nenhum ser humano consegue viver.

Sem uma boa dose de cafeína. Sem um imenso conjunto de aleatórios. Sem o amor dos nossos ancestrais. Sem algumas crenças e valores pra usar como munição nos momentos de confusão. Sem alguns amores platônicos. Sem alguns pés na bunda. Sem alguns puxões de orelhas e de tapete.  Sem algumas expectativas frustradas. Sem algumas frases de efeito. Sem algumas pitadas de autoajuda, nenhum ser humano se torna quem é e nem suporta o tédio que consome a rotina.

Sem uma dose de afeto com pitadas de açúcar. Sem um beijo roubado. Sem umas boas doses de impulsividade uma vez ou outra. Sem um amor de velhas rugas. Sem dançar mesmo sem música.  Sem pudor ou vergonha de dar vazão a alguns sentimentos. Sem poder declarar guerra a algumas atrocidades. Sem poder expressar a opinião mesmo que seja contrário a da multidão. Sem cicatriz, sem dor, sem mágoa, sem reviravoltas, sem incerteza é uma vida chata, monótona e não pertence a nenhum ser humano.

Ser humano que se preze em exercer a sua condição de humano. Erra, tropeça, chora, se descabela, muda de ideia, usa artifícios  contra a dor e a solidão. Ser humano que se preze tem o coração remandado por tantos curativos que poderia até pensar em deixar de amar, mas há sempre uma vontade de perdoar, de fazer acontecer de novo uma velha ou nova, requentada historia de amor.  Ser humano que se preze sabe que é feito de ossos, proteínas, sais minerais, mas que o verdadeiro tecido que rege tudo isso é os seus sentimentos. Estes dão o combustível para tecer relacionamentos e este sim mudarão as cores do cotidiano, as fazendo mais intensas, por vezes nebulosas, mas um ser  humano que se preze exercita a capacidade sublime de possuir ternura, afeto e empatia pelo outro.


Então pergunto você já exerceu a sua humanidade hoje? Por onde anda o seu ser humano? Será que no meio de tantos mecanismos de defesa a fim de se blindar de sentir a um coração pulsante? Enquanto houverem mãos estendidas e uma enorme vontade de criar pontes  em torno do outro ao invés de muro qualquer ser humano terá  a oportunidade de perpetuar a espécie.  

Relembrar, Recordar e Reclamar


                                                                     Relembrar, Recordar e  Reclamar


 Existe diferenças entre relembrar, recordar e reclamar.   Usamos estas ferramentas de uma forma tão deliberada em nosso cotidiano que nem percebemos os reais significados e suas importâncias. Será que são sinônimos ou será que são diferentes?


Quando relembramos, estamos apenas travando um diálogo interno que tem a finalidade de manter o “ranço”. Ou seja, relembrar é apenas uma forma de rechear o nosso mundo interno com uma mesma canção.  É como se tornar um disco quebrado que fica apenas repetindo, sem desenvolver a capacidade de  reflexão, evoluir e deixar fluir a energia. Como ficar escutando uma mesma melodia de uma forma insistente que fica nos alertando e nos fazendo reviver traumas, medos, nos faz visitar os fantasmas que carregamos, faz que alimentemos os nossos monstros dentro do armário. Relembrar é uma forma de ficar engordando os nossos próprios demônios, eles se abastecem de culpa, remorso, memórias e tudo aquilo que deveríamos dar um destino, mas apenas ficamos   relembrando.  Não adubamos com novas ideias, novos projetos, novos planos e nem procuramos uma solução, ficamos apenas a espera que um dia a gente pare de remoer os problemas e possa, de fato, organizar a nossa bagunça interior.  Girar sem sair do lugar se deixando transbordar por angústias como afundar sem usar boias ou remar em um barco a motor.


Podemos achar que a solução para organizar nossas bagunças e deixar as nossas malas abarrotadas de memórias um pouco mais leves, começar a reclamar. Sem perceber que isso é uma forma de se vitimizar.  Ao reclamar  damos um jeito de culpar o governo, o mau tempo, o trânsito caótico e transferimos tudo para o que acontece ao nosso redor. É mais prático apontar os defeitos dos outros do que  começar a agir com o nosso próprio nariz. Aquele velho ditado que cada um deveria cuidar dos seus macacos, se não a gente fica cuidando dos macacos alheios e acaba deixando de cuidar dos próprios.  Temos preguiça de assumir as nossas culpas uma preguiça medonha de mudar e o que dizer de sair da nossa zona de conforto.  Reclamar é o jeito mais rápido e mais prático para poder externar qualquer tipo de sentimento, hoje em dia com as redes sociais chovem reclamações a respeito de tudo o que se pode imaginar. Falta autoanálise, falta bom senso, falta empatia e principalmente, amor. Se tivéssemos mais amor por nós mesmos, seria tão mais leve começar a aceitar e amar os outros. Mas por falta de amor, acabamos por reclamar e verbalizar ou expressar de tantas maneiras distintas tudo o que pensamos que acabamos “vomitando” sentimentos ao invés de senti-los. Reclamar é a formais mais fácil  de aliviar os nossos descontentamentos, mas também a forma mais covarde, afinal transferimos a culpa  e não assumimos nada.



Recordar  é retornar ao equilíbrio, colocar a ordem na casa, arrumar as nossas bagunças, organizar as nossas gavetas e ser capaz de fazer uma “ faxina na alma”.   Poder agir com  o coração, se permitir sentir os sentimentos, poder tomar um tempo para refletir e ser capaz de assumir as culpas.  Aparar as arestas é poder ter a coragem de recordar a fim de que possamos verdadeiramente nos transformar, evoluir,  deixar fluir as nossas energias, para nos tornar melhores.  Recordar é possuir a capacidade lembrar  sem  julgar, sem ser tomado por impulsividade, raiva ou vontade de vingança. É quando conseguirmos admirar o caminho da  nossa existência e nos debruçarmos sob as partes que não saíram como gostaríamos e não sentir raiva disso. Poder recordar sem julgar os  momentos de tempestades, as pessoas que nos frustraram e tantas outras coisas que poderiam ter dado certo. Recordar é o primeiro passo para que a gente comece a repensar as nossas atitudes, sem precisar revirar os sentimentos já tão revirados, sem precisar remoer os remorsos, sem precisar recorrer aos impulsos, e principalmente, sem precisar jogar a culpa no resto do mundo. Recordar é perceber que quando nos despimos dos sentimentos ruins, quando somos capazes de reconhecer os nossos defeitos, seremos capazes de refletir e de fato evoluir.



Há sempre tempo para se libertar de nossas reclamações e de nossas memórias em formato de disco arranhado. Enquanto estivermos abertos para à  vida, há sempre tempo para passar a recordar e começar de novo. Seja com um grande amor, seja numa conversa olhos nos olhos, seja na companhia de um bom livro, seja numa velha canção, seja numa processo de psicoterapia, seja meditando. Seja, da forma que for, todos nós podemos nos libertar de nossos “ ranços”, de nossas amarras e passar a  respirar. Até que possamos entender que não existe liberdade maior do que recordar despido de julgamentos.