Resenha do Filme Eu não faço a menor ideia do que eu tô fazendo da minha vida

 Resenha do Filme

Eu não faço a menor ideia do que eu tô  fazendo da minha vida






Sou uma admiradora da cantora e também atriz Clarice Falcão,  a admiro por inúmeros motivos. Suas canções expressam personalidade, com muita  autenticidade e letras  muito reais. Seja  pelas versões de músicas consagradas para expressar o poder das mulheres e seus direitos como “ I Will Survivor”. Na semana passada me deparei com seu longa metragem  “ Eu não faço a menor ideia do que eu tô fazendo da minha vida” de 2012 e pensei uma porção de coisas que gostaria de compartilhar.


A protagonista Clara ( Clarice Falcão) como qualquer jovem adulto de vinte e poucos anos, passa por uma fase de não  ter a mínima ideia do que está fazendo em relação a sua existência.  Ela cursa medicina, muito mais pelas pressões externas do que por um desejo genuíno com isso fica “matando” aula no campus da universidade que fica dentro deum shopping center. Até  em que um deste momento de ociosidade esbarra com Guilherme ( Rodrigo Pandolfo),  ela confidencia os seus dilemas e juntos decidem tentar encontrar uma profissão que Clara possa exercer, algo que ela realmente tenha nascido para fazer.Cenas hilárias a cada nova profissão que Clara tenta se encaixar, há muito açúcar nas cenas, mas também muitas ironias que nos fazem repensar a respeito de nossas escolhas. Desta forma, além de tentar traçar um destino, também explanam todas as qualidades dela, as que podem a ajudar, as que ela pode desenvolver e com isso vão ampliando opções. Guilherme além de emprestar tempo, também faz  Clara “sair da zona de conforto”, “ pensar fora da caixa” o que parece quase impossível quando o adolescente ao completar dezoitos anos  e muitos até menos, dezesseis  tem que escolher o que vão ser quando crescer e de preferencia algo que dê futuro, lucro e ainda faça feliz. Muita coisa para uma pessoa que há bem pouco tempo tinha apenas que se preocupar em passar ano e agora  tem que de descobrir como quase de forma mágica o que nasceu para ser. Será mesmo que nascemos predestinados a sermos uma coisa só? Será que não podemos ser várias cosias ao mesmo tempo? Será que além de escolher uma profissão não deveria estar incluído ser feliz fazendo isso?


O roteiro é muito bem construído, com várias  cenas reais do cotidiano que se encaixam  a cada um que assiste. Afinal todo mundo é ou já foi um jovem adulto, quase todo mundo deve ter passado por crises de identidade e quantos de nós ainda de fato não se descobriu. Afinal a pergunta o que queremos ser quando crescer? Gera diversos questionamentos ao longo de toda a nossa vida, consome os nossos dias e por vezes desistimos de tentar fazer algo que nos deixe feliz, nos contentamos com o dinheiro no final do mês por mais tedioso  que seja a atividade que exerçamos.  A busca por nossa identidade e as dúvidas que nos assolam foram bem escritas e bem pensadas para passar para o espectador a angústia da personagem sem perder a ironia, o bom humor e as sacadas  inteligentes.  O filme fica um pouco arrastado quando chega em sua metade, mas nem por isso perde a sua genialidade, a sua graça e nem  perde o seu posto como um dos meus filmes preferidos nacionais. Acredito mesmo que estas lacunas e esta sensação de vazio deixada em algumas cenas faça parte do contexto de todos nós. Afinal mesmo quando descobrimos os nossos talentos e os redescobrimos, passamos por momentos de vazio,  ainda vamos nos questionar, nos inquietar e as vezes não ter a menor ideia se estamos no caminho certo, na direção correta, se é um tiro no escuro, um salto rumo ao abismo ou é apenas um passo para o sucesso, isso faz parte até mesmo de quem já descobriu a que veio neste mundo.


O que achei afinal do filme?  Adorei o açúcar, as ironias, as verdades postas à tona e todo este contexto que nos toma quando não temos mesmo a menor ideia do que estamos fazendo de nossas vidas. Para todo mundo que passa, já passou ou talvez passe por isso vale a pena assistir e conferir.



Adendo



Estou curtindo isso de fazer resenhas a respeito dos filmes e depois transpor alguns detalhes pessoais.   Desde os onze anos, eu comecei a escrever, escrevia de tudo poema, romance, crônica e o que mais viesse à cabeça.  Sempre soube de alguma forma que escrever deixa o meu mundo mais sereno, dá sentido aos meus dias e é como uma dose terapêutica para suportar o cotidiano.  Quando estava na época de fazer vestibular, queria jornalismo já que escrevia desde sempre, então iria escolher uma profissão que poderia continuar escrevendo, mas sei lá não necessariamente precisava me especializar nisso.  Ficava complicado pensar que escrever era inerente ao meu ser, como uma parte fundamental da minha personalidade e não assim não via muito sentido em fazer uma faculdade para aprender algo que estava aprendendo  já na vida. Então tinha decidido que não iria fazer faculdade, não precisava disso e iria viver de escrever, ok, a vida me “´podou”, cedi às pressões externas e tive que achar o meu próprio destino. Então antes de decidir trocar o jornalismo por alguma outra que não sabia o que era me fiz algumas perguntas: O que eu queria fazer de verdade e no que eu achava que era boa? Queria mudar o mundo e ajudar as pessoas, sim muito clichê e totalmente vago, mas foi o combustível que me motivou a encarar a psicologia.  Eu sabia que era boa em escutar os outros, se eu era boa para escrever conseguir aconselhar ou fazer que as pessoas se identificassem com o que escrevia poderia perfeitamente fazer isso com as pessoas, poderia ajudar elas a encontrarem o seu destino, correrem atrás de seus sonhos e assim iria de alguma forma imprimir mudanças no mundo. O trajeto da psicologia foi árduo e no começo da vida profissional, cai na tentação de achar que ia ser mais feliz ganhando dinheiro, me contentar com um trabalho que viesse um salário e todos os benefícios que uma empresa pode oferecer. Mas o que eu posso fazer se eu só sou feliz escutando os outros? Sou apaixonada por ouvir histórias, saber detalhes, poder escutar com os sentidos até mesmo aquilo que não é falado, abandonei a psicologia de empresas para me dedicar  para a psicoterapia. Poder escutar os outros é uma forma de abraçar a eternidade, de me sentir gratificada e totalmente abençoada por ter escolhido a psicologia. E  por que ela?  Simples, decidi fugir da minha zona de conforto, qualquer faculdade que escolhesse que tivesse como pano de fundo a escrita e só, me deixaria confortável e não desafiada. Sou movida por desafios e a psicologia soma de uma forma extraordinária o que escrevo, ganha tempero, novos contornos que só quem é capaz de ter a coragem de desbravar os comportamentos humanos, ampliar a consciência a fim de dar sentido à vida das pessoas, verdadeiramente encontra o seu sentido de vida. Não vou dizer que tem dias e fases que não sei e não tenho a menor ideia do que to fazendo da minha vida, mas sei a força que a escrita e a psicologia exercem no meu ser. Saber qual o caminho lhe dá mais segurança para seguir adiante mesmo nos momentos que estamos no escuro. O complexo é quando ainda desconhecemos os nossos talentos ou duvidamos de nossas potencialidades, mas se sabemos de verdade para o que viemos neste mundo os empecilhos serão menores e as pedras no caminho aos poucos se tornarão pontes.



Pequeno Texto, mini crônica- Mar de Reticências



Quase perdi você por orgulho ferido, cicatrizes irreparáveis e  altas doses de besteira. Perdi você , me perdi, com isso encontrei inspiração. Mente de escritor sempre tentando complicado isso  equilibrar o que se passa na mente criativa com o que passa no mundo real, sou como uma televisão fora de sintonia.  Por isso ou por todos os motivos do mundo, acabamos nos perdendo, parece  é preciso perder para finalmente nos encontrar.

Problemas de comunicação, noites de sem dormir, energéticos para animar a alma, altas doses de cafeína para tentar manter a mente focada no que parece ser prioridade. Complicado tentar preencher os dias, continuar vivendo se uma parte foi embora, descobrir quando te perdi que as cores bonitas  provinham da sua ternura, o meu espirito ao seu lado é livre, a minha mente ao seu lado  flui e os meus dias são  plenos de sentido. Escrever isso me deixa parecendo boba repleta de clichês, mas o que fazer se a gente só consegue valorizar quando está a ponto de perder?

Fui determinada a terminar tudo, precisava por um ponto final neste mar de reticências. Precisava seguir adiante, escutar o seu não para poder juntar os meus pedaços e tentar seguir em frente.  Tornei-me um emaranhado denso e pesado demais de palavras mal ditas e muitas vezes malditas, outras às vezes não ditas. Fui me transformando em um emaranhado de silêncios ensurdecedores, de sentimentos não sentidos e de medos titânicos. Por tanto vivo abraçando os meus demônios, me alimentando de nostalgias que nem me dei conta do quanto o combustível é o meu medo, medo de ser feliz. Medo em ser feliz ao seu lado, medo da felicidade, um medo bobo de dar certo, foi você aparecer e uma cidade inteira se acendeu.

Ao contemplar a calmaria do seu mar castanho, quis de forma urgente e desesperada me afogar na sua serenidade. Ao tocar a sua mão, queria  dormir de “conchinha com a sua alma”. Ao notar o quanto temos intimidade suficiente para brigarmos com tanta ironia e argumentos, percebi a intimidade imensa e intransponível  que construímos. Afinal sabemos que ódio não é oposto do amor e sim a  indiferença Esta que se fez presente nos dias que estivemos zangados um com outro. Somos como dois bicudos que no fundo se amam, mas são orgulhosos demais para admitir um sim.

Perdi você e me perdi.  Te amar é me encontrar com a melhor “fatia” de mim.  Te ter por perto é como um escudo que protege de todo o mal. Ao seu lado sinto que posso viver confortável em meu mundo imaginário, tenho você como para- raio e o seu coração como porta aviões, onde há cada volta posso descansar enfim em paz.

Resenha do filme Truman

Resenha do filme Truman




O filme Truman foi vencedor do premio Goya, o que corresponde ao  Oscar espanhol. O premiado e estimando Ricardo Darín ganhou destaque, a meu ver mais do que merecido. Sou uma grande fã dos trabalhos dele e acredito que sua atuação tem se  superado a cada filme.

Quero fazer uma ressalva para Darín antes de falar a respeito da película Truman. Ao receber o prêmio, muito emocionado ele relatou ter sido um trabalho formidável, pediu o apoio da politica para  a promoção da cultura, enfatizou a importância que os políticos deveriam ter em relação a cultura. Recebeu aplausos e ganhou mais “estrelinhas” da minha admiração.

Truman é classificado como uma comédia dramática, mas ele vai muito, além disso, ele remonta as nossas próprias experiências a respeito da nossa existência.  Tendo como personagem principal Julian ( Ricardo Darín) que mora em Madri com seu fiel e confidente e sempre presente cão  da raça bullmastiff. A preocupação do dono gira em torno de estar sendo acometido por um câncer terminal que em poucos meses ou até semanas pode levá-lo a morte. Quem cuidará de Truman? De que forma ele entenderá a partida de seu dono? O que a morte de seu cuidador implicará na sua qualidade de vida? Os dissabores e a relação que temos em relação a morte, o  que deixaremos e de que forma as nossas escolhas repercutirão são temas centrais do filme.


Julian é um ator famoso, ainda está atuando e foi um galã da sua época.  Quando a doença toma conta de si, ele decide interromper o tratamento já que por mais que ele siga com os tratamentos recomendados, o desfecho pode ser o mesmo, a morte.  O filme se passa durante os quatro dias entre Madri e algumas cenas em Amsterdã, o desenrolar se dá  quando ele recebe a visita de Thomas ( Javier Câmera) que é casado com sua prima, ele reside no Canadá.  Há entre eles um humor sútil que beira ao cômico em muitas situações para lá de dramáticas e super delicadas de enfrentar neste momento de despedida já que a vida do amigo com câncer está  permeada por sofrimento, angústias e decisões mórbidas que precisam ser tomadas. Mas com quem ficará Truman?  Esta é a interrogação que não quer calar e  pela qual vale a pena assistir ao filme a fim de se deixar tomar pelos sentimentos que transbordam de uma relação entre nós humanos e nossos  bichinhos de estimação. Até para quem não é um grande fã de animais, vá ao cinema e se deixe surpreender por está comédia dramática que é o ao mesmo tempo cômica e triste, ao mesmo tempo leve e profunda e ao mesmo  tempo delicada e marcante.

O tema morte é um tema difícil de ser digerido do qual muitos de nós finge não se preocupar ou até mesmo escolhe viver sem pensar no dia da partida. Assistir um filme que lida de uma forma tão bela, sensível sem usar de grandes cenas de drama e nem de exposição da doença, nos faz refletir de verdade sobre a nossa existência, nossas escolhas, nossas vaidades, nossos rancores, nossos vícios e até mesmo nossos pontos cegos.


Adendo do Filme- Maggie


O filme me remontou a uma história pessoal de uma amiga e fiel  companheira, Maggie. Uma poodle de tamanho médio,  mas recheada por uma imensa ternura contida em sua alma canina que me fez compreender a humanidade nos nossos companheiros de estimação. Maggie estava sempre ao lado do meu vô paterno,  uma dupla inseparável.  Ele começava a se levantar da mesa após as refeições, ela sabia de alguma forma que era o momento de tirar uma soneca, se levantava ia atrás dele como uma sombra, se deitava embaixo da cama, ouso dizer que até mesmo os roncos eram semelhantes. Na hora de rezar, ela parecia compreender de alguma forma aquele momento, ficava no meio do circulo onde a família dava as mãos para rezar e ali  sentava de cabeça baixa como se estivesse contemplando e respeitando aquele momento. Meu avô nunca gritou com ela, nunca a bateu apenas a guiava com gestos precisos que a fazia compreender que horas deveria ir para sua caminha, que horas o seu pote de ração era colocado, qual era o seu lugar no sofá que era sempre no meio do meu vô e da minha vó, qual distância ela podia percorrer depois do portão estar aberto e outras coisas incríveis que eu presenciei.
Nunca me esqueço de que quando ela não gostava de uma visita, normalmente ela acertava as visitas inoportunas e chatas fazendo xixi nos pés da visita. Nesses momentos meu vô bradava com ela, mas de uma forma tão delicada que parecia compreender o que os porquês da sua traquinagem. À medida que meu vó foi adoecendo e ficando acometidas de uma demência terrível, as idas ao hospital se tornaram constantes, nesses momentos por mais que explicássemos a Maggie que seu dono estava bem ela perdia toda a sua fome, sua vitalidade e ficava apática. A cada retorno do meu vô ela se tornava vivida, como se ganhasse vida a cada retorno.  Com o tempo as melhoras minguaram e tentamos explicar de todas as formas que a partida seria em breve. Quando ocorreu de nada adiantou, ela ficou por alguns meses parados em frente ao portão esperando de alguma forma o retorno de seu amigo.  Como seu desejo não se concretizou, logo ela faleceu. Ou seja, este episódio me fez compreender os sentimentos que um animal desempenha, a sua importância e o quanto eles sentem as mesmas coisas que  nós humanos.

Maggie morreu de saudade, esperando que seu dono voltasse com a sua ternura, suas palavras gentis e seus carinhos, quando percebeu a sua falta como algo permanente e irrefutável, se deu por vencida. Acredito que hoje eles estejam em algum lugar  divino e extraordinário perto do que considero  a eternidade.

Retalhos de Alice


Venho inaugurar um novo espaço aqui no Blog. Deem boas-vindas a uma personagem chamada Alice, de vez em quando vocês encontraram aqui retalhos de seu cotidiano do seu undo interno e alguns retalhos.



Janela de Alice



Ela prefere os amores platônicos aos amores da vida real. Estes dão mais trabalho, despendem mais energia, ou seja, os amores que são frutos da sua imaginação, de estórias inventadas, de desamores que acabaram em um simples sorriso não correspondido, rendem mais pano para manga do que os amores postos no mundo real. Amores reais despendem energia, tempo e dedicação, coisas que ela não tem muita paciência. Capricorniana com ascendente em peixes, não que acredite em astrologia ou tenha paciência para yôga. Já tentou meditar, mas acho que de uns tempos para cá desistiu de encontrar o seu interior, preferiu engolir um energético, tomar mais uma xícara de café preto e seguir adiante. Com isso, ela prefere os amores dos astros de cinema, dos vocalistas da banda de metal e dos seus escritores preferidos. Ela prefere falar sozinha a falar em público, prefere a companhia de um bom livro do que de muitas pessoas e prefere acreditar que colecionar  utopias é bem melhor do que colecionar mágoas.  Ainda acredita em finais felizes, mas não acredita que todo mundo seja capaz de ser feliz o tempo.  É adepta de doces no meio da tarde e café são bem vindos em qualquer horário. Prefere reticências a pontos finais, prefere deixar as coisas entreabertas para possíveis recomeços do que deixar as coisas para trás. É péssima em receber elogios, acaba sempre por nãos saber o que dizer, sente suas bochechas corarem e por ventura  saí correndo. Talvez este seja o pior defeito dela ter uma imensa coragem dentro de si , mas peca por não acreditar apenas em seu quinhão ruim, com isso ela pode fugir a qualquer momento. Por isso cuidado pessoa seja menino, menina ou o tipo que for quando se deparar com a fúria castanha dos seus olhos, ali habita um coração de manteiga, alma furta cor e uma tendência para fugas quase secretas. Acredito que no fundo, ela foge de si mesma, mas sabe quem  corre contra ao que veio fazer neste mundo, acaba por esbarrar com a seu destino quando menos espera. Cuidado ao esbarrar nessa criatura de pequena estatura e de grandiosa coragem, o pior defeito dela é a pretensão de achar que dá defeito em tudo Ela se encanta por quem desafina, dá defeito e morre de rir de si mesmo. Menina que usa os limões do caminho para fazer caipirinha, menina que usa o humor contra a monotonia do cotidiano e usa a ironia para falar tudo o que pensa sem se desprender da ternura.