Costumo dizer que meu aniversário é como uma
ressaca das festas de final de ano. Afinal, nascer no dia 02 de janeiro me faz
além de ser uma capricorniana com ascendente em sagitário, obcecada por horários
e pitadas de teimosia, me torno também uma pessoa “festiva”. Passamos pelas
festividades natalinas, damos uns
pulinhos depois da meia noite no ano novo, descansamos no dia primeiro dia do ano e pronto,
nasci. Com isso, não me julgue antes de me conhecer, não curto tanto assim as festas
de final de ano e muito menos o calor, este eu detesto. Acredito que em uma
outra vida, devo ter nascido no inverno já que nesta época do ano em muitos
lugares do mundo o chão é tecido por flocos de neve e podemos sentir o frio congelante percorrendo os
nossos ossos. Vamos deixar a
meteorologia do lado, falar do que importa.

Mas este ano, resolvi me dar de presente um
novo lugar, uma nova comemoração e até mesmo renovar as lembranças. Conselho de
viagem deve ser escutado com cuidado,, sempre pesquise o lugar antes de ir
viajar. Ok, não pesquisei e peguei a
estrada e lá fui junto com meu noivo para uma cidade aqui no Rio Grande do Sul
chamada São Francisco de Paulo. Pode ser que seja por ter sido primeiro de
janeiro, mas a cidade estava deserta e
me senti numa cidade fantasma. Nem comércio, nem movimento e nem nada havia
ali, deu até um certo medo. Não havia beleza alguma ali, apenas um lago gigante onde
se avistava o hotel do qual ouvimos falar. Tudo começou a me lembrar o hotel do filme O
Iluminado, o lago parado com águas
profundas, os balanços e os brinquedos de um parque de diversão rangendo, as
casas vazias. O interior do hotel era escuro, repleto de móveis antigos e tudo
ali parecia estar prestes a estrelar um
filme de suspense, fiquei ali torcendo os dedos para que não houvesse um quarto
vago, de forma alguma iria conseguir dormir ali. Não tinha lugar, então partimos para a tarefa
de ligar para as pousadas e hotéis ao redor, achamos uma com um nome que
parecia chique, outro conselho não se deixe levar pelos nomes é a mesma coisa
que julgar um livro pela capa ou uma pessoa pela aparência. Fomos até a “pousada”
era um sobrado, um casa comum mesmo. Nem recepção havia, o primeiro andar dava
direto para a casa dos donos, para a sala de estar, me senti literalmente na
casa da minha vó. Foi nos oferecido um primeiro quarto minúsculo que só de
ficar uns poucos minutos poderia causar claustrofobia.
O banheiro era tão
estreito que era humanamente impossível duas pessoas tomarem banho ali juntas ou
dividirem a pia e o detalhe maior era que não tinha televisão. Ok, este é um
dos meus lados mesquinhos, sou viciada em televisão, ela sempre me fez companhia
e preciso dela nem que seja para assistir o jornal. Fomos apresentados a nossa
segunda opção de quarto, tão pequeno quanto o outro, porém havia uma detalhe
perturbador. Onde estava o banheiro? Não
podia acreditar no que estava presenciado, o banheiro era no corredor. Mas a
moça simpática que estava encarregada pelo ‘tour” nos disse que aquele banheiro seria totalmente nosso e teríamos um
chave. Fiquei pensando nossa imagina se você tem uma dor de barriga de noite e
tem que se vestir para ir até o corredor, realmente me senti na idade média.
Desistimos
por não passar a noite na cidade, o próximo destino, Canela, parecia
promissor. Antes disso já estávamos
mortos de fome, voltamos ao hotel do
Iluminado perguntar onde ficava a zona gastronômica da cidade e a senhora
disse com um sorriso de orelha a orelha que tinha uma rua principal repleta de
bons restaurantes e que todos deviam estar abertos. Sim tinha uma rua enorme
repleta de restaurantes que serviam apenas xis e alaminuta e todos incrivelmente
fechados, até mesmo as lojas de conveniência estavam fechadas. Batizamos a cidade do xis já que havia mais
lugares para comer xis do que habitantes por metro quadrado.
Finalmente
avistamos o único lugar aberto, galeteria
aberta que tinha um cartaz na frente dizendo que servia churrasco de pinhão.
Mais uma vez fui tomada por um sentimento de pânico e ao mesmo tempo o meu estômago
me lembrava de que precisava ser abastecida. A galeteria mais mediana na qual
já fui e a mais cara. Pagamos a incrível quantia de cinquenta reais por pessoa,
sem grandes variedades, comida requentada e fria, um suco que poderia causar
diabetes em um só gole. Ok, concordamos
que isso era temporário, logo estaríamos em algum bom quarto na serra e lá
poderíamos sentir os ares da civilização.
Ao
chegar a Canela avistamos uma cidade lotada por uma infinidade de turistas
vindos de todos os cantos do país, realmente a crise deve ter pegado todo mundo
de jeito, viajar para o exterior deve estar caro demais, todo mundo parecida
ter ido para lá. Ficamos quatro horas procurando um lugar para ficar, nisso já tínhamos
desistido da ideia de ficar duas noites, além de ser caro, estávamos cansados e
juro que pensamos em voltar para casa. Encontramos uma pousada incrível, onde a
recepcionista nos ofereceu um quarto ótimo, preço razoável, café da manhã, wi-fi
e ainda contava com um spa. Ficamos super felizes achando que finalmente
iriamos começar a curtir e relaxar, se não fosse por um pequeno detalhe, havia
quarto apenas para o dia seguinte.
Devastamos, seguimos a nossa saga até encontrarmos uma pousada bem simpática
que nos ofereceu um chalé por um preço bem aceitável para passar uma
noite.
Estava bom, não era o lugar mais bonito e nem
o mais organizado, mas o que o nos aguardava era que nenhuma tomada
funcionava e claro nem pensar em internet. Pensei em quanto sou urbana e
quanto preciso de civilização. Preciso de ar condicionado, preciso de bons
restaurantes, preciso de cinema, preciso de livrarias e preciso de cafés.Não
sou uma pessoa materialista no sentido de consumista, mas invisto o meu dinheiro
em coisas de qualidade, adoro conhecer novos restaurantes e sim comida é uma
parte da qual gasto Me dei conta que que o mínimo para se sair de casa para é se
ter pelo menos o mesmo nível de conforto que se tem em casa, afinal sair para
passar trabalho, nem pensar. Para alguns pode soar como aventura, para mim soa
como passar uma temporada no inferno. Então nem cogite me convidar para
acampar, fazer aventuras ao ar livre, sou urbana demais para alguns prazeres
que me soam pré históricos.
A
viagem foi ótima porque tudo isso nos fez ter ataques de risos. Tiveram
pousadas que nos ofereceram varal, outras nos ofereceram quartos tão escuros
que seria preciso usar lanterna para se enxergar e outras pareciam ter saído
dos contos de Alice no País das
Maravilhas. No final das contas tudo valeu a pena afinal era o meu aniversário
e o meu desaniversário também, fui pedida em casamento pelo homem que amo aos
pés do Lago Negro a luz do luar, isso anulou todas as desaventuras do caminho.
Tomamos bons cafés e o meu almoço de aniversário foi simplesmente mágico, comi
um prato de pasta com carne que me remeteu aos sabores, os aromas e aos gostos
da comida da minha avó paterna, fui transportada para os almoços de domingo na
casa dela, a saudade pareceu diminuir, senti que foi o presente de aniversário
que ela me deu.
Para fechar com chave de ouro, queimei meu
dedo na máquina de café e afundei meu pé na lama, dizem que isso dá sorte. Para
finalizar fomos conhecer o Templo Budista em Três Coroas, o acesso é bem
complicado, mas lá com certeza foi o lugar mais sereno que já conheci. Lá é possível
sentir as boas energias, me senti infinita e com a alma renovada. Já prático
Yoga alguns anos, medito todos os dias e tenho os meus mantras e os meus
rituais. Acredito que ter espiritualidade independente da religião, é precioso praticar
a bondade, saber agradecer, ter compaixão, saber usar a empatia são passos para se ter longevidade.
Fiz
vinte e seis anos com muitas histórias, um pedido de casamento, um par de
alianças lindas a caminho e a certeza que estar ao lado de quem se ama faz tudo
valer pena.
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